terça-feira, 23 de novembro de 2010

Ar...



Publicado em: 27/10/10
Na foto: Ruth Jamison, interpretada por Mary-Louise Parker no filme Tomates Verdes Fritos.


Ar

É tão confuso..

esse espaço entre o som e o calor...
dos centímetros que amparam a ansiedade...
ofegante, nego.

pois inesperados são.
certos ou não.
estariam a aguardar...
um desespero em vão?

ruborizado fico..
atônito..
fadado a se tornar escravo...
escravo de sonhar com uma palavra...

que ecoa sem existir...

e é sim, tão incerto...
esses pensamentos nublados...

e tão estranhas essas palavras...

é como se perdesse o foco...

há um turbilhão de fatos que dançam...

e sem lágrimas a sorrir.

em uma palavra? louco.

louco de pedra.
eu, claro.
certo em pensamentos e narrativas...
que só eu consigo entender.

porque eu me eximo de gritar sem perceber...

por soltar palavras assim...irresponsavelmente livres...

melhor assim (?)

ao final de mais um dia...

a dúvida em descobrir até quando duram as curvas de um sorriso...
meu sorriso...
e a verdade por trás dos fatos que eu não quero acreditar...


no fim...é sempre assim...

a intensidade, a dor e o sangue

O que eu quero...


Eu não quero conhecer o mundo todo...
Eu não quer passar horas em aviões...
ou em ônibus...
ou em trens...

ou viver em restaurantes...
ou reclamar de ressacas cavalares...

Eu não quero viver só para gastar com prazeres efêmeros...

Eu não quero um mundo pronto...
eu quero um mundo feito de linhas traçáveis...

Existem basicamente dois tipos de pessoas:
Aquelas que consomem e aquelas que criam.

Eu quero criar...
quero deixar minha marca no mundo...

Seja em tirar uma foto hoje que me faça chorar daqui há 20 anos.

Em fazer um prato que o sabor mude a cada mordida.

Em roterizar um curta em que várias pessoas se identifiquem.

Em escrever um livro...

que faça minha (futura) esposa derramar lágrimas de felicidade só ao ler uma dedicatória.

E que faça meu filho (e espero um dia tê-lo) entender o quão difícil é a vida. e que fiz tudo que fiz para protegê-lo.

e até lá...até concluir tudo isso...
quero emocionar pessoas...
com palavras...
com tweets...
com postagens...

não importa o método...

eu quero mudar meu mundo...
mudar minha vida...
minha rotina...
e a vida das pessoas ao meu redor.

Eu quero viver uma narrativa livre...
correr sonetos de sílabas impares...imprecisas...e erradas...

Quero declamar a tristeza do mundo sem sentir culpa...
chorar a injustiça das almas sem medo...

Quero quebrar regras de conduta com um sorriso idiota na cara...

e colher a alegria nos olhos daqueles que são surpreendidos...

a vida é tão curta...

e há tanto a se fazer...

tanto a se viver...

a verdadeira pergunta é: como você vive a sua vida?

Brilho Eterno


(Publicado originalmente em 20/10/10)

Dias novos...

Diferentes...

Dias de palavras não ditas...

e expectativas veladas...

com som ou no silêncio...

a música que toca não é a que eu quero...

e quando a surpresa e a sorte formam 2 esses...

elas dançam alegremente no painel imperfeito desses dias tão escusos...

embora sejam de palavras serenas...

a tristeza nem chega perto daqui...

torta e fraca, ela arquiteta planos quebradiços...

mas não...

hoje é dia de sorte...

uma maré entrou pela minha janela preferida...

e nela me deixei guiar...

por dias melhores...

que acontecem hoje...

e outros a esperar...

sempre.

A Cor do Trigo


A Cor do Trigo

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.

O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

[...]

- Que é um rito? perguntou o principezinho.

- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

[...]

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

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Trechos do pequeno príncipe.

parece bobo...
parece obvio...
é inclusive para crianças...

Mas é preciso lembrar...sempre.

One-Shot: Gham



Publicado inicialmente em 15/02/2008

One-shot: Gham

Gham abriu os olhos que ainda ardiam relutantemente. Seu corpo cansado se recusava, mas ela levantou mesmo assim. Suas insistências...Suas esperanças...
Mesmo sem propósito, existiam e queimavam dentro de seu corpo.
Corpo que agora estava mais leve de uma forma que ela não conseguia entender...

Pensamentos... algo que ela quase havia esquecido, agora retornavam...
Lembrando-a que sua mente agora estava ativa...
Questionou inicialmente quanto tempo ela havia dormido...
- por exatos mil anos tens dormido, minha cara – uma voz feminina e potente quebra sua linha de pensamento.
- e sim, a “nossa” gravidade é diferente da que você está acostumada. Sente-se, levantar-se só a deixará mais confusa. – ela continuou.

Gham olhou em direção a voz que escutava e viu uma mulher, ela aparentava ter seus 40 anos e seus cabelos eram loiros e sua pele era clara e usava vestes cerimoniais que por mais que Gham nunca tivesse visto algo assim, um sentimento novo trazia familiaridade a tudo aquilo.

Ela lembrou daquelas modelos das revistas que lia antes. E lembrou também de sua vida... seus amigos, sua família... e de Hiro. E logo um desespero a tomou.
- Acalme-se! Disse a mulher. Você precisa esquecer seu passado. Ele só trará uma dor desnecessária. Seu mundo morreu... Seus pais seguiram suas vidas, seus amigos cresceram, tiveram filhos, netos... assim como Hiro que casou e formou uma linda família... ele envelheceu e por fim morreu.

Mesmo assim, Gham não conseguia se controlar e chorava compulsivamente.

Está tudo em nossos arquivos, nós acompanhamos seu mundo há milhares de anos. Mas o importante é que Você foi nossa escolhida. Você possui o espírito mais evoluído da sua época. Não há ganância, egoísmo ou qualquer outro mal em seu ser. Você foi o único ser realmente puro que existiu nos últimos três mil anos depois Dele.

- Dele? – Gham questionou.
- Sim! Ou você esqueceu sua religião? Não estou aqui para contar histórias, mas sim para lembrá-la porque está aqui!
Você foi escolhida para dar VIDA ao seu planeta.

Nesse instante, Gham parou de chorar.

- Venha comigo... há algo que quero lhe mostrar! – E assim as duas saíram do quarto e assim a mulher continuou.
Desde muito antes de sua época seu planeta estava destinado a morrer. E ele ia. Mas devido a tecnologia de seu povo, vocês conseguiram manter a terra viva por mil anos, mas agora, é impossível e não há tecnologia que possa reverter tudo que seu povo fez. E por isso seu povo também está destinado à extinção.
Não sei que sentimentos a tomarão quando lhe propor a escolha a seguir.
Veja! Este é o seu mundo como você se lembra... o planeta azul, como preferimos chamar. Mas infelizmente ele não é mais assim... hoje ele está cinza e somente o deserto existe, e as cidades esquecidas em suas cúpulas de vidro. Mas se você quiser... somente você é capaz de torná-la azul novamente...

Somente você pode dar vida a seu planeta.
Mas isso custará a SUA vida. Você morrerá...por seu mundo e fará parte dele.
Você será a alma do seu mundo! E enquanto você tiver forças a natureza que há nele irá se manter.
Essa é uma escolha sua. Se você aceitar seu planeta e seu povo irão prosperar.
Mas se recusar, seu mundo e tudo que você conhece sumirão.

- Pelo seu olhar você já sabe minha resposta! – Gham disse sem rodeios.
- Sim! Senão não a teríamos escolhidos.
- Então não preciso responder.
- Se você prefere assim.
Mas lhe aviso que devido sua escolha decidimos lhe dar um presente... e não há nada mais precioso que conhecimento. Qualquer coisa que quiser, qualquer informação lhe será concedida... mas apenas uma informação.

Gham hesitou por um tempo, ela queria saber sobre aquele povo, quem eles eram e porque se preocupavam tanto com a Terra e os humanos, mas ela sabia que saber aquilo não fará diferença e mesmo que haja maldade neles ela não poderia impedi-los. Mas mesmo assim só uma coisa lhe interessada de verdade.

- Quero que me contes como Hiro viveu.
- Seu desejo é uma ordem! – a mulher disse.

Nós a trouxemos para cá no dia que ele ia se declarar para você, e graças a essa atitude você manteve sua pureza. Deixamos um bilhete como se tivesse sido escrito por você se despedindo de todos. Fizemos com que acreditassem que você fugira de casa por não querer mais a presença deles. E Hiro ficou muito triste ao saber da notícia.

- Meu hiro...

Ele se afundou em um mundo que nem mesmo ele conhecia. Mas ele foi salvo, por uma garota. Eles se casaram e tiveram dois filhos... mas algo o impedia de ser feliz... o amor que ele mantinha por você o seguiu pelo resto de seus dias.
E não houve um dia em que ele não pensasse em você e não chorasse por dentro.
Ele viveu e morreu sem ter grandes desejos ou ambições... a vida dele perdeu sentido sem você, e...

- Pare! Já tenho informações suficientes..
- Tem certeza?
- Sim, e... já... estou pronta!