sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Babaca



É uma lembrança eterna
que vai e volta sem querer

Eu
Entrando no ônibus aos 14, indo para o cursinho pré-vestibular
Ela no fundo. Sentada. Sozinha. Indiferente.
Entretida com tantos pensamentos
E uma postura que unia maturidade e rebeldia.

Eu? O primogênito. Filho Exemplo. O Babaca.
A perfeição não era uma escolha. Era obrigação.
Era tímido demais para olhar pra ela por mais de 3 segundos
E tão pouco tinha coragem para sentar próximo.

Eu ficava no meio do ônibus, com os meus tantos pensamentos
Imaginando se ela havia me notado.

Descíamos em pontos de ônibus diferentes.
Mas íamos para o mesmo cursinho. Mesma sala.
Isso se repetiu por meses.

Uma vez ela sentou na minha frente.
E quando foi beber água, li seu nome.
E desde então nunca mais esqueci.

Fizemos prova pra Escola Técnica e quando saiu o resultado
Procurei o nome dela primeiro. Ela passou. Eu também.
Não demorou muito para termos amigos em comum.
Descobri que ela morava a umas 3 quadras de distância.
Às vezes voltávamos juntos. E eu a acompanhava até a casa dela.
No portão da casa dela, ela me dava um beijo no rosto de despedida.

Uma vez fomos no cinema: eu, ela e uma amiga nossa.
O filme? Beleza americana.
Ela pegou na minha mão.
Assistimos o filme inteiro de mãos dadas.
O babaca aqui não fez nada.

Passei a semana seguinte pensando em quão idiota eu era
ponderei (como um adolescente de 15 anos ponderaria)
e decidi me declarar.
Minutos depois, eu a vejo vindo em minha direção
De mãos dadas
com um amigo em comum.

Eles namoraram por anos.
Desde então eu desisti.
Tive minha chance. E desperdicei.

Os anos passaram.
Encontrei com ela pouquíssimas vezes.
Nos últimos 12 anos devo tê-la visto umas 3 vezes.
Dito um “oi” uma.

Hoje eu tive que deixar meu carro na oficina
Quando voltava, parei em uma loja de brinquedos
para comprar um presente para um aniversário hoje.
Voltei pra casa a pé. Um percurso de 20 minutos.

A encontrei.
Ela parou. E mesmo depois do “oi, quanto tempo”
Ela não mostrou pressa. Mas eu sim.
Poderia ter conversado mais.
Poderia... poderia... poderia...
Disse um “Foi bom te ver” e fui embora.

Não quero calcular as chances remotas de tê-la encontrado
Ou os propósitos de um suposto “meant to be

Eu vou embora de Manaus no final do mês
Está tarde demais pra MUITA coisa
E tudo que eu mais quero evitar
É encontrar um motivo pra ficar.

Não sou o mesmo de 15 anos atrás
E não sinto mais as mesmas coisas

Mas talvez ainda seja um babaca.