É uma lembrança eterna
que vai e volta sem querer
Eu
Entrando no ônibus aos 14, indo
para o cursinho pré-vestibular
Ela no fundo. Sentada. Sozinha.
Indiferente.
Entretida com tantos pensamentos
E uma postura que unia maturidade
e rebeldia.
Eu? O primogênito. Filho Exemplo.
O Babaca.
A perfeição não era uma escolha. Era
obrigação.
Era tímido demais para olhar pra
ela por mais de 3 segundos
E tão pouco tinha coragem para
sentar próximo.
Eu ficava no meio do ônibus, com os
meus tantos pensamentos
Imaginando se ela havia me
notado.
Descíamos em pontos de ônibus
diferentes.
Mas íamos para o mesmo cursinho. Mesma
sala.
Isso se repetiu por meses.
Uma vez ela sentou na minha
frente.
E quando foi beber água, li seu
nome.
E desde então nunca mais esqueci.
Fizemos prova pra Escola Técnica
e quando saiu o resultado
Procurei o nome dela primeiro. Ela
passou. Eu também.
Não demorou muito para termos
amigos em comum.
Descobri que ela morava a umas 3
quadras de distância.
Às vezes voltávamos juntos. E eu
a acompanhava até a casa dela.
No portão da casa dela, ela me
dava um beijo no rosto de despedida.
Uma vez fomos no cinema: eu, ela
e uma amiga nossa.
O filme? Beleza americana.
Ela pegou na minha mão.
Assistimos o filme inteiro de
mãos dadas.
O babaca aqui não fez nada.
Passei a semana seguinte pensando
em quão idiota eu era
ponderei (como um adolescente de
15 anos ponderaria)
e decidi me declarar.
Minutos depois, eu a vejo vindo
em minha direção
De mãos dadas
com um amigo em comum.
Eles namoraram por anos.
Desde então eu desisti.
Tive minha chance. E desperdicei.
Os anos passaram.
Encontrei com ela pouquíssimas
vezes.
Nos últimos 12 anos devo tê-la
visto umas 3 vezes.
Dito um “oi” uma.
Hoje eu tive que deixar meu carro
na oficina
Quando voltava, parei em uma loja
de brinquedos
para comprar um presente para um
aniversário hoje.
Voltei pra casa a pé. Um percurso
de 20 minutos.
A encontrei.
Ela parou. E mesmo depois do “oi,
quanto tempo”
Ela não mostrou pressa. Mas eu
sim.
Poderia ter conversado mais.
Poderia... poderia... poderia...
Disse um “Foi bom te ver” e fui
embora.
Não quero calcular as chances remotas
de tê-la encontrado
Ou os propósitos de um suposto “meant to be”
Eu vou embora de Manaus no final
do mês
Está tarde demais pra MUITA coisa
E tudo que eu mais quero evitar
É encontrar um motivo pra ficar.
Não sou o mesmo de 15 anos atrás
E não sinto mais as mesmas coisas
Mas talvez ainda seja um babaca.